terça-feira, 29 de março de 2011

RUA DO QUÊ? [1]

Salvador tem cada nome de bairro que só vendo! Normalmente os nomes dos bairros traduzem uma história daquele local e o seu desenvolvimento. Muitos nomes são para lá de curiosos e suas origens mais curiosas ainda. Há aqueles nomes que tem sua origem indígena, como por exemplo, Itapuã, Piatã, entre outros. Já outros figuram fatos históricos ou estranhos. Mas também as ruas, os largos, as ladeiras.... tudo tem uma origem em seu nome. Há, a Estrada da Rainha, que se chama assim porque antigamente por ali passavam os cortejos fúnebres que levavam os corpos para a Baixa de Quintas dos Lázaros. A rainha neste caso seria a morte. Esta história eu nunca esqueci. Então, depois do dicionário baianês, em homenagem a nossa querida cidade, passo para vocês a origem de alguns nomes das ruas e bairros daqui de Salvador. É muita história para ser contada... então dividirei em dois posts. E dá-lhe cultura!


BARRIS
Obviamente, senhores arquitetos, senhores engenheiros, quando forem à estação da Lapa, observem que o primeiro piso está sempre úmido, porque ninguém consegue arrolhar uma nascente; o primeiro piso da estação da Lapa é sempre úmido porque a água continua ali, embaixo, na fonte dos Barris. O nome é a resposta do óbvio, da busca da água de boa qualidade, potável e por isso se faz fonte dos barris. Ali, um homem chamado Barbacena, Felisberto Caldeira Branco Ponte de Oliveira e Horta fez a sua casa de moradia. Esta casa Felisberto Caldeira Branco foi mais tarde comprada pelo poder público, mas antes disso foi à sede do colégio Abílio, Abílio César Borges implantou ali o Ginásio Baiano, o primeiro estabelecimento de ensino de nível médio que nós tivemos aqui, no bairro dos Barris.



Essa casa foi também, mais tarde, quartel de polícia e depois foi demolida e hoje está no sitio onde ela era, a Biblioteca Pública do Estado. Essa é a historinha pequena do bairro dos Barris. Diga outro.



RIO VERMELHO
No caso do Rio Vermelho, há a considerar o seguinte: “camarajibe”. “Camarajibe” é um nome que foi transformado pelo uso popular em “camurujipe”. “Camarajibe” é rio dos camarás. Quem conhece camarás aqui? Ninguém mais conhece, todo mundo é do asfalto. É uma florzinha vermelha, abundantíssima, antigamente tinha demais aí, na cidade.


Rio das florzinhas vermelhas, rio vermelho, daí nasce o nome do rio que foi propriedade da casa de Ibiza. Propriedade de Manoel Inácio da Cunha Menezes, que ganhou de sesmaria a terra que vai dali, da Mariquita até a sede de praia do Bahia, daí para dentro, a mesma coisa. Morou numa casa que eu ainda conheci e aqui, aqui ninguém conheceu, todo mundo é menino. Foi durante muito tempo sede do Aeroclube da Bahia, depois foi demolida e agora fizeram lá, aquela coisa. Ali estava a sesmaria de Manoel Inácio da Cunha Menezes do rio Vermelho.



LAPINHA
Lapinha. Muito bem.

O que é uma lapinha?
O que é uma lapa pequena em termos de religião católica?
É um presépio.
Onde é que Cristo nasce? Numa manjedoura.
Uma lapinha, quem é do interior aqui sabe que ninguém fala presépio, fala lapinha mesmo. Uma lapinha é um Presépio.
Quando os padres iniciaram a devoção ao Menino Deus, criou-se a capela da Lapinha e então o nome permaneceu. Era o limite norte da cidade no século XIX, tanto que até hoje, o exército libertador, o exército do Dois de Julho entra na cidade a partir da Lapinha, da Lapinha para a Liberdade era o interior.
Então, a homenagem ficou, ingressa-se na cidade a partir da Lapinha, a partir dali é que as forças de 1823 ingressaram na cidade.



MISERICÓRDIA
Todo mundo conhece aqui a lenda ou a história, não sei, depende da crença; da rainha de Portugal que protegia os pobres, levava comida contrariando a vontade do rei, Dona Leonor. Todo mundo conhece a história dela, de que em determinada altura ela foi interpelada sobre o que é que ela levava escondido no regaço, que era comida e coisas assim. Ela respondeu: são flores e abriu e eram efetivamente flores, ocorrendo o milagre.


A Misericórdia foi uma espécie de – eu estou falando, dando aula mesmo, não estou fazendo conferência nenhuma - A Misericórdia foi uma espécie de INPS da colônia. Para que você entenda a coroa portuguesa só tinha dois verbos, o verbo lucrar e o verbo ordenar; isso é não brigando e pagando imposto, está todo mundo feliz, não precisa brigar coisa nenhuma.


Mas as cidades cresciam, as cidades cresciam e as necessidades chegavam; é preciso enterrar os mortos, é preciso vestir os nus, é preciso ter os presos encarcerados, é preciso – em suma – realizar as obras de misericórdia. Criou-se então em Portugal, as casas da Santa Misericórdia que eram instituídas, como até hoje são as Santas Casas de Misericórdia, instituições privadas, particulares que se ocupam de atender àquilo que é a prestação dos serviços comunitários que cabe ao estado. Nós até hoje temos seqüelas disso na Bahia, o cemitério do Campo Santo é propriedade da Santa Casa da Misericórdia, a Pupileira, ali, no Campo da Pólvora, ali, em Nazaré é propriedade da Santa Casa da Misericórdia; o hospital Santa Isabel é propriedade da Santa Casa da Misericórdia; todos, heranças do tempo em que os serviços assistenciais estavam entregues aos particulares, o poder público não estava nem aí para saber quem está doente. Os hospitais da Misericórdia nasceram em função exatamente dessa situação. A rua onde está o hospital da Misericórdia, está lá até hoje o hospital, onde estava a repartição central, onde estava a capela, onde estava a administração, passou obviamente a ter o nome de Rua da Misericórdia.




TORORÓ
Tororó é onomatopéico, Tororó com Barris. São bairros que estão perto um do outro. Tororó é onomatopéico das águas do dique. Que era muito maior do que é hoje esse dique, é bom lembrar. Para você ter uma idéia, até o século XIX, você podia tomar uma canoa na Concha Acústica e navegar até a Tribuna da Bahia, atravessar tudo que hoje é o Vale dos Barris, ingressar no que ainda resta de dique, Fonte Nova não havia, era o dique propriamente dito, até chegar lá, no sangradouro do dique.


Quando se abriu, se cortou a meia encosta para fazer a ladeira dos Galés...


...Largo da Fonte Nova, para não confundir com a Fonte das Pedras, que é aquela que está lá, junto do estádio. Fonte Nova é aquela cá de baixo, onde se lava automóveis, tem mendigos por ali, essa é que é a Fonte Nova.




LIBERDADELiberdade. Aí era a estrada das boiadas. O boi que descia do sertão era comercializado na feira do Capuame, feira de gado, Capuame, que depois mudou o nome para Dias D’Ávila, hoje é a cidade de Dias D’Ávila, ali estava a feira do gado. Esse gado era trazido para o abate. O abate da cidade estava onde hoje é o terminal da Barroquinha, ali é que era o matadouro da cidade. Por isso que o rio se chama de rio das Tripas, porque os dejetos, as sobras do sacrifício dos animais eram jogadas no rio das Tripas. O rio das Tripas está lá, a Baixa dos Sapateiros não existe, ela é um rio canalizado, você anda por cima do extradorso da abóbada que cria a Baixa dos Sapateiros, o rio das Tripas está lá.


Então, este gado vinha pela estrada que você chama da Liberdade, que era a estrada das boiadas. Em 1823, por ali entrou o exército libertador e então, a estrada das boiadas passou a ser chamada estrada da Liberdade.




BROTAS
Nossa Senhora das Grotas. O falar popular é que transformou de Grotas em Brotas. Nós falamos uma língua que é dinâmica, ela vai modificando no tempo.





MOURARIA
No caso da Bahia, não foram mouros propriamente ditos, foram ciganos; mas isso é uma distinção que você está fazendo agora, na época, veio de fora, não era português, era mouro. Mouraria tem tudo a ver com o bairro da Mouraria lá, em Lisboa, dos judeus, como é um gueto, para usar uma palavra mais divulgada. O gueto dos judeus é a Mouraria dos mouros, é o lugar de confinamento dos moradores que eram maometanos.




PARIPEParipe é um julgado. Paripe é uma coisa interessante porque na verdade, Paripe, embora faça parte da cidade de Salvador, foi anexado judicialmente à cidade de Salvador muito depois da fundação, muito depois. No século XVIII, ainda Paripe não integrava – digamos – legalmente a área da cidade de Salvador, era um julgado; ou seja, um povoado de administração independente.




AMARALINA
Amaralina era a fazenda Alagoas, que os mais antigos aqui se lembram da lagoa que havia lá, que foi tampada por um prefeito desses aí. A fazenda Alagoas que foi comprada por José Álvares do Amaral que rebatizou a fazenda com o nome dele, fazenda Amaralina.



Fonte: http://www.cidteixeira.com.br/site/palestras.php?id=3

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